As paixões

22/08/2014 18:45

Acontece quando você acorda e de repente percebe, enxerga com clareza que toda aquela paixão que dominava seu coração estivera te deixando cego. Cego para as coisas claras e reais, como se houvesse uma nuvem, algo embaçado que não deixasse as coisas parecerem como realmente são.

Porque as paixões fazem isso? Nos tapam a visão, nos alucinam, nos levam a um patamar além do que nós conseguimos alcançar. Tiram a razão, hipnotiza, cala qualquer intuição, deixa- nos bobos, inocentes, infantis. Perdemos a identidade. Por mais que insistamos em manter o pé no chão, nos tornamos alados. Voando sem rumo, sem direção. É como cair na estrada sem limites de velocidade com os cabelos ao vento. Sentindo a brisa, o cheiro de natureza e o gosto ilusório de liberdade. Ilusório porque as paixões nos aprisionam, nos acorrentam nos tornam escravos de um sentimento inelutável, imperioso e ao mesmo tempo covarde, porque invade sem avisar, toma conta sem nos dar chance de defesa.

E de repente, quando ela vai embora, leva tudo que parece ter restado da gente. Toda nossa força, nossa vitalidade, nossa vontade de encarar o mundo novamente. Deixam-nos sem esperança, com a sensação de fim do mundo, sem luz. Se estávamos cegos de devoção, enxergar a realidade pode doer mais que vinte facadas no peito dadas sem dó. Não era nada daquilo, nada do que você enxergava. Pôr as ideias no lugar, aceitar que acabou e que tudo tem um motivo. E pra que motivo? Dói e pronto. E dor não tem explicação, simplesmente dói. Uma dor sem fim que avassala o coração, esmaga, aperta, assola, arrasa. Deixa-nos sem ar, desconsolados, desolados, infelizes. Eternamente infelizes. Prantos sem fim, lágrimas que parecem não aliviar. Noites em claro. Vontade de nunca mais se relacionar. Um vazio imenso, um mar sem fim, um caminho sem volta.